quarta-feira, 27 de abril de 2022

CONVITE

CONVITE

A Diretoria da ONG Beija Flor – Casa da Solidariedade tem o prazer e orgulho em convidar toda população de São Francisco do Itabapoana, principalmente moradores de Gargaú, para a Inauguração da Biblioteca Bracutaia, projeto idealizado pelo nosso Diretor de Arte Cultura, Artur Gomes, que estará presente, para um bate papo com o público, sobre as atividades que pretendemos desenvolver na Casa.

Aproveitamos também para convidar você a conhecer a UNIASSRLVI nossa futura parceira nessa grande jornada.

https://blog.uniasselvi.com.br/

São Francisco do Itabapoana-RJ – 27 de Abril de 2022 Sorriso – Ong Beija Flor – Casa da Solidariedade


Jura Secreta

Só uma coisa me entristece

O beijo de amor que eu não roubei

A jura secreta que eu não fiz
A briga de amor que eu não causei

Nada do que posso me alucina
Tanto quanto o que não fiz
Nada do que quero me suprime
Do que, por não saber, 'inda não quis

Só uma palavra me devora
Aquela que o meu coração não diz
Só o que me cega, o que me faz infeliz
É o brilho do olhar que eu não sofri

Sueli Costa/Abel Silva

ouça na voz de Fagner

https://www.youtube.com/watch?v=N1FIy7eKYFM&list=RDMMN1FIy7eKYFM&start_radio=1

 Jura secreta 56

 ainda que fosse viagem

de metrô ou fantasia
e o assunto que eu mais queria
fosse o que não dissesse
e o mar apenas trouxesse

gaivotas sobre os cabelos
vento sol maresia

e o líquido que não bebemos

fosse conhac ou cerveja
mesmo assim a vida seja

entre o que os pelos lateja

o que a tua boca não fala
o que a tua língua não prova
e a prova das dezessete
te levasse mais cedo
inda assim não tenha medo

a palavra entre meus dedos
é o que ainda não disse
miragem essa coisa nova
agora revisitada
naquela hora marcada
de tudo o que não fizemos

 Jura secreta 57

meta metáfora no poema meta

como alcançá-la plena

no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico prumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste
como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em prumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece

  Jura secreta 58

a carne que me cobre é fraca

a língua que me fala é faca
o olho que me olha vaca
alfa me querendo beta
juro que não sou poeta

a ninfa que me ímã
quando arquiteta
o salto da abelha

quando mel em flor

e pulsa pulsa pulsa pulsa
na matéria negra cor
quando a pele que veste é nada
éter pluma seda em pelo
quando custa estar em Arcozelo

desatar a lã dos fios do novelo

em pleno  sol de Amsterdã
desvendar Hollanda

nos mistérios da palavra

por entre o nó  dos cotovelos?

 jura secreta 59

a coisa que me habita é pólvora
dinamite em ponto de explosão
o país em que habito é nunca
me verás rendido a normas
ou leis que me impeçam a fala
a rua onde trafego é amplo
atalho pra o submundo
do escavado  fosso

o poço

onde mergulho é fundo

vai da pele que me cobre a carne

ao nervo mais íntimo do osso

 Jura secreta 60

qualquer

palavra eu invento

na carnadura

dos ossos

na escriDura

do éter

na

concretude do vento

na

engrenagem da sílaba

vocabulário onde posso

dar nome próprio ao veneno

que tem o

Agro Negócio

 Jura Secreta 61

pele grafia

meus lábios em teus ouvidos

flechas netuno cupido

a faca na língua a língua na faca

a febre em patas de vaca

as unhas sujas de Lorca

cebola pré sal com pimenta

tempero sabre de fogo

na tua língua com coentro

qualquer paixão re/invento

o corpo/mar quando agita

na preamar arrebenta

espuma esperma semeia

sementes letra por letra

na bruma branca da areia

sem pensar qualquer sentido

grafito em teu corpo despido

poemas na lua cheia

  Juras secreta 62

tenho estado

entre o fio

e a navalha

perigosamente – no limite

pulando a cerca da fronteira

entre o teu estado de sítio

e o meu

estado de surto

só curto a

palavra viva

odeio uma língua morta

poema que

presta é linguagem

pratico a SagaraNAgem

na esquina  da rua torta

Artur  Gomes

do livro Juras Secretas

Editora Penalux - Guaratinguetá-SP

2018

https://secretasjuras.blogspot.com/


Fulinaíma MultiProjetos

www.centrodeartefulinaima.blogspot.com

sábado, 23 de abril de 2022

Artur Gomes - Suor & Cio - nesta segunda feira 25/4 20h no Canal do Poetariado

 

Agende-se.

Clique no link:

https://youtu.be/qyCSwzGZ9lk


A poesia liberada de Artur Gomes

 

Há uma passagem, em Auto do Frade, de João Cabral, que me chamou a atenção:

“- Fazem-no calar porque, certo, sua fala traz grande perigo.

- Dizem que ele é perigoso mesmo falando em frutas e passarinhos”.

Vislumbro aí  uma espécie de definição do alto poder da poesia, do poeta, da arte em geral: deixar fluir uma energia de protesto e indignação, crítica e iluminação da existência, qualquer que seja o pretexto ou o ponto de partida.

Por exemplo -: Suor & Cio, novo poemário de Artur Gomes. Na sua primeira parte (Tecidos sobre a Terra), lemos um testemunho direto sobre as misérias e sofrimentos na região de Campos dos Goytacazes, interior fluminense. Não se canta amorosamente as lavouras de cana e grandes usinas, os aceiros e céus de anil. Ao contrário. Ouvimos uma fala que “traz grande perigo”, efetivamente, ao denunciar – com aspereza e às vezes até com extremo rancor – a situação histórico-social,  bruta e feroz, selvagem e primitiva, da exploração do homem no contexto do latifúndio e da monocultura.

 

“usina mói a cana

o caldo  e o bagaço

usina mói o braço

a carne o ossso.”

 

Mas essa poesia dura, cortante e aguda, mantém igualmente a sua força de transgressão – continua revolucionária e perigosa – mesmo quando tematiza (principalmente em Tecidos sobre a Pele, segunda parte do livro) as frutas, ou o prazer sexual, os seios, o carnaval, o mar, e os impulsos eróticos. Por detrás dos elementos bucólicos e paradisíacos (só nas aparências, bem entendido), eis que explode o censurado o reprimido, o que não tem vergonha e nem nunca terá:

 

“arando o vale das coxas

com o caule da minha espada

no pomar das tuas pernas

eu planto a língua molhada”.

 

Por isso, frequentemente os poemas se debruçam sobre o próprio ofício do poeta, e sobre o próprio sentido do fazer artístico. Ofício de artista, experiência de poeta: presença do risco da violação das normas injustas: carnavalizando, desbundando a troup-sex, infernizando o céu santificando a boca do inferno, denunciando o rufo dos chicotes, opondo-se aos d nos da vida, que controlam o saldo, o lucro e o tesão.

Os versos de Artur Gomes querem ser lidos, declamados, afixados em cartazes, desenhados em camisas. E vieram para ficar nas memória e bibliotecas da nossa gente, apesar do suor e do cios, graças ao suor e ao cio:

 

“com um prazer de fera

e um punhal de amante”.

 

Uilcon Pereira

São Paulo, julho de 1985


tecidos sobre a pele

ó terra incestuosa de prazer e gestos não me prendo ao laço dos teus comandantes só me enterro à fundo nos teus vagabundos com um prazer de fera e um punhal diamante

minha terra é de senzalas tantas enterra em ti milhões de outras esperanças soterra em teus grilhões a voz que tenta – avança
plantada em ti como canavial que a foice corta
mas cravado em ti me ponho a luta mesmo sabendo – o vão estreito em cada porta

 

 COITO

 

teu corpo é carne de manga

em meu pênis viril

enquanto sangra

quando beijo tua boca

                     enfurecido

rasgando por trás

o teu vestido

 

COR DA PELE

 

África sou: raíz e raça

orgia pagã na pele do poema

couro em chagas que me sangra

alma satã na carne de Ipanema

 

o negro na pele

é só pirraça

de branco

na cara do sistema

 

no  fundo é amor

que dou de graça

dou mais do que moça

no cinema

 

 CARNE PROIBIDA

 

o preço atual

proíbe

que me coma

 

mas pra ti

estou de graça

pra ti

não tenho preço

 

sou eu

quem me ofereço

a ti

:

músculo e osso

 

leva-me à boca

e completa teu almoço

 

 

 PROFISSÃO

 

meu ofício é de poeta

pra rimar poema e blusa

e ficar em sua pele

pelo tempo em que me usa

 

 FRUTAS

 

no vermelho dos morangos

marrom dos sapotis

na pele das romãs

carne das goiabas

polpa das amoras

licor das melancias

e tropical abacaxi

 

no gosto que elas têm de beijo

e jeito que elas têm de sexo

penetro os dentes mordendo

chupando dragando em ti

 

a terra das frutas na boca

arando o vale das coxas

com o caule da minha espada

eu planto a língua molhada

 

PRIMEIRO AMOR

 

montado no sol a pino

no pasto do céu em chamas

eu cavaleiro menino

enlouqueci na sua cama

 

VOO SELVAGEM

 

I

 

correndo nos  cavalos

cresceu

meu coração de égua

enxertado

em ilusões de águias

 

II

 

meu coração galopa

pelo campo afora

no dorso dos poemas

na pele das esporas

 

III

 

diante da cerca

estão os bois

saciando o sexo:

corpos sob o sol

selvagens & parceiros

guiados pelo odor

amando pelo cheiro

 

IV

 

no pasto

o encontro boca a boca

a égua abriu-se toda

para que nela

entrasse

 

                 bastasse ver

o seu pulsar

           e gozo

para que o alazão também

          entre o capim

gozasse

 

V

 

com espada em riste

galopamos pradarias

e lutamos ferozmente

por dois segundos e meio

 

tua fúria era louca

e agarrei-me em tua crinas

para não cair da cama

 

mas o amor era tanto

e tanto era o prazer

quando fomos pra cama

não tinha mais o que fazer

 

 

CORAÇÃO CIVIL

 

meu coração vadio

quando está no cio

faz comício

em seu quintal

vai pro bar e bebe o rio

e canta um  hino nacional

 

 

 TEMPERO

 

é preciso socar certas palavras

com sal pimenta & alho

para dar o gosto

 

o ardido

que se traz na boca

é tempero mal cuidado

 

é preciso cortar o mofo

das ações de certas palavras

para quando for poema

ter ação presente

penetrar a carne

e ter sabor de gente

 

 

meu poema

se completa

em seu vestido

roçando sua carne

no algodão tecido

 

 

EXERCÍCIO

 

com um dedo

abro

a tua boca vagina

 

com dois

aperto

o bico do teu seio

 

e

 ultra passo

a porta do teu meio

 

 

TERRA

 

amada de muitos sonhos

e pouco sexo

deposito a minha boca

no teu cio

e uma semente fértil

nos teus seios como um rio

 

o que me dói

é ter-te

devorada por tantos olhos

e deter impulsos por fidelidade

 

 

POESIA

 

I

 

chegas a mim

como uma égua assanhada

não quer saber do meu carinho

só quer saber de ser trepada

 

II

 

eu te penetro

em nome do pai

do filho

do espírito santo

amém

 

não te prometo

em nome de ninguém

 

 

boca do inferno

 

por mais que te amar

seja uma zorra

eu te confesso amor pagão

não tem de ter perdão pra nós

eu quero mais é teu pudor de dama

despetalando em meus lençóis

e se tiver que me matar que seja

e ser eu tiver que te matar que morra

em cada beijo que te der amando

só vale o gozo quando for eterno

infernizando os céus

e santificando a boca do inferno

 

Artur Gomes

Do livro Suor & Cio – MVPB Edições – 1985

Musicado e gravado por Luiz Ribeiro no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia – Fulinaíma Produções – 2000

 

O CORPO DA POESIA

                        para Artur Gomes

 

I

Seu semântico

sêmen

quântico

seu semeio

sêmen

esteio.

nos aceiros

assim e

pinci

pau

mente

assados.

nas moendas

assim

e parti

cu

lar

mente

assadas.

 

II

seu pênis poético

(caneta tinteiro

lápis grafite)

é tênis

atlético

a cada passada

por toda calçada

por todos os Campos

&

campus.

seu gozo é pôr

prazer.

 

III

E se a terra é escrava

a mulher é companheira

e se todas duas suam,

gemem, sabem

da rija verga da cana,

só você pode fazer

com cada uma

uma mágica

e tê-las como fecundas,

frutas, fibras, forças, fadas

e não só vê-las (solvê-las) absurdas,

frias, frágeis, soturnas, apáticas.

 

IV

É que o corpo da poesia

tem em si suor & cio

tem assim toque macio

e braveza de enxurrada.

 

Marco Valença

Itapuã – Salvador – Bahia

05 setembro – 1985

 

Suor & Cio – Artur Gomes

 

A cor da pele, à flor da pele, tecido da pele, à flor da terra.

É o livro de Artur Gomes:

Suor & Cio, reconduz o homem a terra. Resgata o seu suor de homem e cio da terra. É tanto amor e o tanto amar homem terra homem.

Artur tem muito da característica de João Cabral, quando fala da terra, mundo: muito de Ledo Ivo na capacidade de reunir palavras e dizer algo, que as vezes, gostaríamos de gritar com todas as forças.

Poeta de fôlego de gato. Artur é uma das grandes expressões da atual poesia brasileira.

 

Hugo Pontes

Poços de Caldas-MG – 17 junho 1987

 

Obs. Os poemas tecidos sobre a pele carne proibida estão publicados na antologia Carne Viva. Org. por Olga Savary, prmeira antologia de poesia erótica publicda no Brasil.





Fulinaíma MultiProjetos

www.centrodeartefulinaima.blogspot.com

Artur Gomes - O Homem Com A Flor Na Boca

  metafórica dialética quantas teorias terei para escrever o que falo?   quantos sapatos ainda apertam os calcanhares do meu calo?...