terça-feira, 29 de novembro de 2022

Manifesto Antropófago

 


MANIFESTO ANTROPÓFAGO

                                     

                                          Oswald de Andrade


Só a ANTROPOFAGIA nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.

Tupi, or not tupi that is the question.

Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitos postos em drama. Freud acabou com o enigma mulher e com os sustos da psicologia impressa. O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará. Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande

1 . Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil

2 . Uma consciência participante, uma rítmica religiosa. Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar. Queremos a Revolução Caraíba

3 . Maior que a revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem. A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls.

1 Selva amazônica; na mitologia indígena da amazônia, "cobra grande" é o espírito das águas. Esta entidade foi motivo de um longo poema antropófago, Cobra Norato (1931), de Raul Bopp (1898/1984), que, ao lado de Macunaíma (1928), de Mário de Andrade (1893/1945), compõe exemplos da antropofagia oswaldiana.

2 Referência à extensão continental do país e à necessidade de resolver os problemas lingüísticos no Brasil, se pautava pela tradição lusitana, ignorando as especificidades do país. Retomada, sob outro ângulo, da grande polêmica por José de Alencar (1829 / 1877), na vigência do Romantismo brasileiro no século XIX.

 3 Oswald idealiza a união dos indígenas através do vocábulo caraíba, que designa tanto uma das comunidades indígenas com as quais os primeiros portugueses tomaram contato à época do Descobrimento do país, que viviam mais ao norte, quanto uma grande família lingüística a que pertenciam várias tribos brasileiras mais ao sul.

Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Ori Villegaignon print terre. Montaigne. O homem natural. Rosseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo, à Revolução Bolchevista, à revolução Surrealista e ao bárbaro tecnizado de Keyserling.

Caminhamos. Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará. Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós. Contra o Padre Vieira

4 . Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto disseralhe: ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia. O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da vacina antropofágica. Para o equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores. Só podemos atender ao mundo orecular. Tínhamos a justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem. Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vítima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores.

Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.


O instinto Caraíba. Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia. Contra as elites vegetais 

5 . Em comunicação com o solo. Nunca fomos catequizados. Fizemos foi o Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses

6 . Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro. Catiti Catiti

7 Imara Notiá Notiá Imara Ipeju

8 A magia e a vida. Tínhamos a relação e a distribuição dos bens físicos, dos bens morais, dos bens dignários. E sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais. Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chama-se Galli Mathias. Comi-o

Só não há determinismo onde há o mistério. Mas que temos nós com isso? Contra as histórias do homem que começam no Cabo Finisterra

9 . O mundo não datado. Não rubricado. Sem Napoleão. Sem César. A fixação do progresso por meio de catálogos e aparelhos de televisão. Só a maquinaria. E os transfusores de sangue. Contra as sublimações antagônicas. Trazidas nas caravelas. Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu

 10: - É mentira muitas vezes repetida. Mas não foram cruzados

11 que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos comendo, porque somos fortes e vingativos como o Jabuti

12 . Se Deus é a consciência do universo Incriado, guaraci é a mãe dos viventes. Jaci é a mãe dos vegetais. Não tivemos especulação. Mas tínhamos adivinhação. Tínhamos Política que é a ciência da distribuição. E um sistema social-planetário. As migrações. A fuga dos estados tediosos. Contra as escleroses urbanas. Contra os Conservatórios e o tédio especulativo. De William James e Voronoff.

A transfiguração do Tabu em totem. Antropofagia. O pater famílias e a criação da Moral da Cegonha

14: Ignorância real das coisas + fala (sic.) de imaginação + sentimento de autoridade ante a prole curiosa. É preciso partir de um profundo ateísmo para se chegar à idéia de Deus. Mas a caraíba não precisava. Porque tinha Guaraci. O objetivo criado reage como os Anjos da Queda. Depois Moisés divaga. Que temos nós com isso? Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade. Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria

15, afilhado de Catarina de Médicis e genro de D. Antônio de Mariz. A alegria é a prova dos nove

16 . No matriarcado de Pindorama

17 . Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada.

Somos concretistas. As idéias tomam conta, reagem, queimam gente nas praças públicas. Suprimamos as idéias e as outras paralisias. Pelos roteiros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas. Contra Goethe, a mãe dos Gracos, e a Corte de D. João VI

18 . A alegria é a prova dos nove. A luta entre o que se chamaria Incriado e a Criatura - ilustrada pela contradição permanente do homem e o seu Tabu. O amor cotidiano e o modusvivendi capitalista. Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade. Porém, só as puras elites conseguiram realizar a antropofagia carnal, que traz em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por Freud, males catequistas. O que se dá não é uma sublimação do instinto sexual. É a escala termométrica do instinto antropofágico. De carnal, ele se torna eletivo e cria a amizade. Afetivo, o amor. Especulativo, a ciência. Desvia-se e transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos pecados de catecismo - a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos. Contra Anchieta

19 cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema

20, - o patriarca João Ramalho fundador de São Paulo. A nossa independência ainda não foi proclamada. Frase típica de D. João VI: - Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça

21. Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte

22 . Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud - a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.


Oswald de Andrade Em Piratininga  Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha25 (Revista de Antropofagia, Ano I, No. I, maio de 1928.)



domingo, 27 de novembro de 2022

Geleia Geral - Banquete Antropofágico

 


fotos: Letícia Rocha - Geleia Geral - 3ª Edição agosto - 2022

Geleia Geral – 7ª Edição – Banquete Antropofágico

 Goytacá Boy

poema do livro Juras Secretas

Editora Penalux – 2018 – musicado e gravado por Naiman no CD fulinaíma sax blues poesia (2002)


ando por são Paulo meio Araraquara
a pele índia do meu corpo
concha de sangue em tua veia
sangrada ao sol na carne clara

juntei meu goytacá teu guarani
tupy or not tupy
não foi a língua que ouvi
em tua boca caiçara

para falar para lamber para lembrar
da sua língua arco íris litoral
como colar de uiara
é que eu choro como a chuva curuminha

mineral da mais profunda
lágrima que mãe chorara

para roçar para provar para tocar
na sua pele urucun de carne e osso
a minha língua tara
sonha cumer do teu almoço
e ainda como um doido curuminha
a lamber o chão que restou da Guanabara

 

Rúbia Querubim assim como Oswald de Andrade é a mulher que Nada Sabia de Mim desde os tempos dos Retalhos Imortais do SerAfim

 

CARNE Proibida

 

o peço atual

proíbes que me comas

mas pra ti estou de graça

pra ti não tenho preço

slu eu quem me ofereço

a ti: músculo & osso

leva0-me à boca

e completa o teu almoço

 

Artur Gomes

https://suorecio.blogspot.com/

 

Jura Secreta – revisitada

não fosse essa jura secreta
mesmo se fosse e eu não falasse
com esse punhal de prata
carne de sol – na lata
teu suor entre meus dedos
o sal sob o teu vestido
o sangue no fluxo sagrado
sem nenhum segredo


esse relógio apontado pra lua
teu corpo em pelo – Nu – a carne crua
não fosse essa jura secreta
mesmo se fosse eu não dissesse
essa ostra no mar das tuas pernas

não seria justo
como um conto do Marquês de Sade
no silêncio logo depois do susto

 

Artur Gomes

Juras Secretas – O Poeta Enquanto Coisa

https://secretasjuras.blogspot.com/

leia mais em https://ruidomanifesto.org/sete-poemas-de-artur-gomes/

 

o curral das merdavilhas

 

o brasil já foi ilha de vera cruz

e nunca foi ilha

já foi terra de santa cruz

e nunca foi santa

hoje ninguém mais se espanta

com o volume das trapaças

no curral das merdavilhas

 

Artur Gomes

Pátria A(r )mada – 2ª Edição

Desconcertos Editora-SP – 2022

https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/

leia mais em https://www.germinaliteratura.com.br/2021/naberlinda_arturgomes_dez21.htm


fotos: Letícia Rocha  - Geleia Geral - 3ª Edição - agosto 2022

Geleia Geral – Revirando A Tropicália  é fruto das minhas andanças poéticas por este grande SerTão Macunaímico que um dia deságua nas profundezas da  antropofagia Oswaldianas, das minhas leituras, releituras, referências.

Quando em 2020 comecei a pensar quem neste 2022 estaria sendo comemorado o centenário Semana de Arte Moderna de 1922, achei que era o momento ideal para trazer para o palco da Santa Paciência – Casa Criativa, uma grande roda que girasse em torno da música, teatro, poesia, cinema, literatura, artes plásticas e artes visuais, o grande legado da Semana de 22 – a ruptura – proposta por Oswald com o Manifesto Antropofágicio de 1928  e Macunaíma Mário de Andrade, também de 1928.


fotos: Welliton Rangel - Geleia Geral 1ª Edição - junho 2022

E chegamos a 7ª Edição da Geleia Geral – com a ideia da realização de um Banquete Antropofágico, que gire numa grande Roda – de conversa,  de música, de teatro, de poesia, e de leituras outras. Numa reflexão e homenagem a nossa grande Mãe Terra. E ao mesmo tempo um olhar aguçado e instigante sobre esse nosso Brasil pós golpe de 2016 até esses nosso obscuros Templos atuais.

fotos: Patrícia Bueno - Geleia Geral - 2ª Edição - julho 2022

Artur Gomes

Fulinaíma MultiProjetos

fulinaima@gmail.com

22 – 99815-1268 – whatsapp

 

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Geleia Geral - Revirando A Tropicália

 



   Geleia Geral - Revirando A Tropicália

25 novembro - 2022 - 19h - Santa Paciência - Casa Criativa -  Rua Barão de Miracema, 81 - Campos ex-dos Goytacazes-RJ

 

Tributo A Gal

 

a primeira vez que te vi

foi nas Dunas do Barato

na praia de Ipanema

não era cena de cinema

era verão de 1972

depois então te ouvi cantar no Canecão

Vapor Barato Mal Secreto

poemas de Wally Salomão

musicados por Jards Macalé

me fez sentir inteira a vida

como se tua vida fosse minha

minha Deusa minha Rainha

 

ninguém cantou como você Baby

Pérola Negra Hotel das Estrelas Dê Um Rolê

sabe como é pássaro elétrico

vive a vida por um fio

isso acontece e acontece que sem você

meu coração ficou frio

 

Black Billy

 

ela tinha um jeito Gal

fatal – vapor barato

toda vez que me trepava as unhas

como um gato

 

cantar era seu dom

chegava a dominar a voz

feito cigarra cigana ébria

vomitando doses do seu canto

 

uma vez só subiu ao palco

estrela no hotel das prateleiras

companheira de ratos

na pele de insetos

praticando a luz incerta

no auge do apogeu

 

a morte não é muito mais

que um plug elétrico

um grito de guitarra uma centelha

logo assim que ela começa

algo se espelha

na carne inicial de quem morreu

 

Artur Gomes

https://fulinaimagens.blogspot.com


Programação:

Abertura – Artur Gomes A Rosa do Povo

Roda de Poesia – Adriano Moura + Carla Paes + Christina Cruz + Joilson Bessa

Roda de Conversa – Arlete Sendra – Um Olhar Sobre Pagu  - Mediadora – Aline Portilho

Marcelo Sampaio – Um Olhar Sobre Literatura e Poesia

Chico de Aguiar - Um Olhar Sobre Wilson Batista 

Fulinaíma Mgnética – Tributo A Gal

Artur Gomes + Marcella Roza + Marcelo da Rosa + Serginho do Cavaco + Carlos (percussão)

 

Fulinaíma MultiPojetos

https://fulinaimacentrodearte.blogspot.com/


Artur Gomes - O Homem Com A Flor Na Boca

  metafórica dialética quantas teorias terei para escrever o que falo?   quantos sapatos ainda apertam os calcanhares do meu calo?...