Incontinência Verbal
eles tentaram
além de nos calar/apagar
um espaço/tempo
do país onde nascemos
viemos dos
40 50 60 70 80 90 2000
o que vivemos
o que fizemos
o que fazemos
onde estamos
o que faremos
pra onde iremos
o que sabemos
incomoda/desconforta
conhecimento liberta
é porta aberta
e não um vão estreito
em cada porta
Artur Gomes
in Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim
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*
Fernanda Torres, ganha o Globo de Ouro – Melhor Atriz pelo filme Ainda Estou Aqui
A grandiosa FERNANDA TORRES levou o GLOBO DE OURO. Soube agora, e já acordei chorando. Que grande emoção! Choro principalmente por ela, que construiu um personagem perfeito, baseado na contenção de emoções. Choro por sua rica trajetória de atriz. Choro também por FERNANDA MONTENEGRO, essa mãe da TORRES, que também é nossa mãe, por nos ter proporcionado tanta beleza nas artes. Por ainda nos emocionar tanto, com seu raro talento, do alto dos seus mais de 90 anos. Que exemplo de mãe Fernanda Torres teve o privilégio de seguir. Choro também por Marcelo Rubens Paiva, que soube transformar sua dor, a dor de Eunice Paiva, de seu pai e de sua família em arte, entregue ao grande Walter Salles. Choro por esse filme magnífico que denuncia, com tanta beleza, uma das épocas mais tenebrosas da História do nosso País, que há pouco tempo poderia voltar, certamente de forma ainda mais sanguinária, se não fosse a força divina orientando homens lúcidos, honestos e corajosos. Choro por nós, brasileiros, que merecemos apresentar nossa potente Arte ao mundo, para além do futebol, e das tão exploradas e monótonas bundas. Choro por mim, poeta e artista, que sabe o valor de transformação humana das artes. Viva o cinema brasileiro!
Carmen Moreno
Poeta – Escritora
ENGENHO
minha terra
é
de senzalas tantas
enterra em ti
milhões de outras esperanças
soterra em teus grilhões
a voz que tenta – avança
plantada em ti
como canavial
que a foice corta
mas cravado em ti
me ponho à luta
mesmo sabendo – o vão
- estreito em cada porta
Artur Gomes
Em 1984 poemas meus foram publicados na Antologia Carne Viva, organizada por Olga Savary, considerada a primeira Antologia de poesia erótica publicada no Brasil, com a presença de poetas como Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Affonso Romano de Sant´Anna, etc.
ontem 3 janeiro 2025, assisti o depoimento de Sergio Ferro, dado ao Tutaméia https://tutameia.jor.br/ Sergio Ferro é arquiteto desenhista. No período da ditadura civil/militar 1964/1985 era professor da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Chegou a atuar como estagiário nos canteiros de obra de Brasília. Perguntado sobre as possibilidades de um mundo melhor, ele não teve dúvida em apontar o trabalho do MST - movimento dos sem terra e movimento dos sem teto. Inclusive afirmando que na França onde ainda mora continua a ajudar na divulgação desses dois movimentos. Se formos pensar profundamente a questão, vamos chegar a conclusão que o golpe de 1964 se dá pelo temor das Reformas de Base, formuladas pelo presidente João Gulart, e isso explica porque imediatamente logo no primeiro Ato Institucional, é cassado o deputado trabalhista Rubens Paiva, em 9 de abril de 1964, e vem ser assassinado dentro do Doi-CODI que funcionava dentro do quartel da PE na Rua Barão de Mesquita, na Tijuca - Rio de Janeiro.
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Balbúrdia Poética – livro e manifesto
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1º de Abril
telefonaram-me
avisando-me
que vinhas
na noite
uma estrela
ainda brigava
contra a escuridão
na rua sob patas
tombavam
homens indefesos
esperei-te 20 anos
até hoje não vieste
à minha porta
Artur Gomes
in Suor & Cio – 1984
Publicado pela primeira vez no livro Suor & Cio 1984/1985 – 20 anos depois do Golpe de 1964 – esse poema está gravado no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia, publicado também na antologia pessoal Pátria A(r)mada 2019 e 2022, já esteve exposto em diversas Mostras de Poesia Visual, Brasil afora, está presente em fanzines na seção de arquivos da Biblioteca Nacional e é um dos meus poemas selecionados para o livro Balbúrdia PoÉtica Livro e Manifesto.
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Pátria A(r)mada
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CAVOUCANDO A TERRA
Wilson Coêlho
A obra "Itabapoana Pedra Pássaro Poema ", de Artur Gomes, é toda "poiesis", na perversão dos significados, trata-se de uma poesia no pau-de-arara, confessando intimidades, inventando conceitos, transitando nas peripécias, nos espasmos, no lance de dados.
Não é por acaso a ideia do subtítulo ou anunciação de "poesia, alquimia e bruxaria", considerando a poesia, como gênero literário que faz uso de uma linguagem musical, figurada e criativa para veicular expressões artísticas, bem como, a alquimia dos sentimentos líquidos que escorrem no delírio do poeta que, de certa forma, no que diz respeito à bruxaria, resgata o místico, não religioso, que coloca em questão a possibilidade do óbvio de se estar no mundo, fora da lógica cartesiana, numa viagem Catatau leminskiana.
A poesia escrita, encenada, cantada, em movimento, inerte, barulhenta ou silenciosa. É a esfinge, Torre de Babel, Cavalo de Troia, fios de Ariadne, ferocidade de Teseu, sonho de Penélope, aventuras de Odisseu, nave louca de Torquato Neto, Macunaíma de Mário de Andrade, loucura de Artaud, ópio de Baudelaire, pânico de Arrabal.
Podemos afirmar, sem medo de errar que, em "Itabapoana Pedra Pássaro Poema", Artur Gomes usa a pena como uma pá que lavra os sulcos de um terreno baldio, a palavra como um arado em movimento, uma palavração. Assim, vai desenhando na página branca, cavoucando a terra para enterrar as sementes de suas árvores "geniológicas", sempre frutíferas e, como um agricultor e arqueólogo das palavras, as retira da mera condição de semânticas, inventando novos significados, desafinando o coro dos contentes e desafiando a gravidade da lei da gramaticidade.
Enfim, em "Itabapoana Pedra Pássaro Poema ", estamos diante de uma desarticulação do mito e num processo de reinvenção, uma porta de entrada na utopia (u-topus = não lugar) para dar existência a um novo lugar da poesia extemporânea.
Wilson Coêlho é poeta, tradutor, palestrante, dramaturgo e escritor com 28 livros publicados, licenciado e bacharel em Filosofia e Mestre em Estudos Literários pela UFES, Doutor em Literatura Comparada pela UFF e Auditor Real do Collège de Pataphysique de Paris, do qual recebeu, em 2013 o diploma de “Commandeur Exquis”. Assina a direção de 29 espetáculos montados com o Grupo Tarahumaras de Teatro, com participação em festivais e seminários de teatro no país e no exterior, como Espanha, Chile, Argentina, França e Cuba, ministrando palestras e oficinas. Também tem participado como jurado em concursos literários e festivais de música. Participa de diversos movimentos e eventos de teatro na América Latina.
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"uma cidade sem memória não é uma cidade"
Federico Baudelaire
momento de grata felicidade ao lado do grande brother/poeta Salgado Maranhão e da escritora/historiadora Anita Leocádia - registro feito por Lília Diniz por ocasião da 7ª Feira do Livro de São Luís – Maranhão
conheci Anita Prestes (filha de Luis Carlos Prestes), ao lado do poeta Salgado Maranhão, na 7ª Feira do Livro em São Luis do Maranhão em 2013. Atualmente, por todo o ano de 2024, quando o Golpe de 1964, chega aos seus 60 anos, estou mergulhado numa busca do levantamento da memória dos anos de chumbo 1964/1985.
Tenho assistido a maioria dos depoimentos dados a Comissão Nacional da Memória, por ex presos políticos e agentes das forças de repressão do período. Um dos mais contundentes, dado pelo ex-agente do Doi-Codi do Espírito Santo, o hoje pastor Cláudio Guerra, que narra como os corpos já retirados sem vida da Casa da Morte em Petrópolis e trazidos para serem incinerados nos fornos da Usina Cambaíba.
Hoje assisti a entrevista de Anita Prestes, no site Tutaméia, https://tutameia.jor.br uma reflexão sobre esse período e o momento histórico do Brasil. Busco o levantamento dessas memórias como fonte de pesquisa para o livro Vampiro Goytacá Canibal Tupinquim, porque apesar de ser um livro de poesia/ficção, entendo que nenhuma ficção nasce do nada, existe sempre pelo menos algum vestígio de uma cruel realidade por detrás dela.
Artur Gomes
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que venha 2025
com fé esperança
afinco
que nossos telhados
sejam ao menos de prata
menos de zinco
esconfio
que sobre nós
descerá chuva divina
para abençoar a severina
vida seca – serafina
desafio novo dinivo
fazer crescer novo roçado
ver na terra novo cio menino
Federika Lispector
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VeraCidade
pedra de toque
pedra de rock
veracidade meu bodoque
tem seu preço
na minha idade esta cidade
ainda não conheço
e até hoje
ninguém soube escrever o endereço
desde os tempos
das colônias dos impérios
dos tropeiros dos tropeços
Artur Gomes
Itabapoana Pedra Pássaro Poema
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