sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Carne Viva

Incontinência Verbal

 

                     eles tentaram

 além de nos calar/apagar

 um espaço/tempo

 do país onde nascemos

viemos dos

40 50 60 70 80 90 2000

o que vivemos

 o que fizemos

o que fazemos

onde estamos

o que faremos

pra onde  iremos

 o que sabemos

incomoda/desconforta

 conhecimento liberta

é porta aberta

 e não um vão estreito

               em cada porta 


Artur Gomes

in Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

leia mais no blog

https://fulinaimacentrodearte.blogspot.com/

*

Fernanda Torres, ganha o Globo de Ouro – Melhor Atriz pelo filme Ainda Estou Aqui

 

A grandiosa FERNANDA TORRES levou o GLOBO DE OURO. Soube agora, e já acordei chorando. Que grande emoção! Choro principalmente por ela, que construiu um personagem perfeito, baseado na contenção de emoções. Choro por sua rica trajetória de atriz. Choro também por FERNANDA MONTENEGRO, essa mãe da TORRES, que também é nossa mãe, por nos ter proporcionado tanta beleza nas artes. Por ainda nos emocionar tanto, com seu raro talento, do alto dos seus mais de 90 anos. Que exemplo de mãe Fernanda Torres teve o privilégio de seguir. Choro também por Marcelo Rubens Paiva, que soube transformar sua dor, a dor de Eunice Paiva, de seu pai e de sua família em arte, entregue ao grande Walter Salles. Choro por esse filme magnífico que denuncia, com tanta beleza, uma das épocas mais tenebrosas da História do nosso País, que há pouco tempo poderia voltar, certamente de forma ainda mais sanguinária, se não fosse a força divina orientando homens lúcidos, honestos e corajosos. Choro por nós, brasileiros, que merecemos apresentar nossa potente Arte ao mundo, para além do futebol, e das tão exploradas e monótonas bundas. Choro por mim, poeta e artista, que sabe o valor de transformação humana das artes. Viva o cinema brasileiro!

 

Carmen Moreno

Poeta – Escritora 


                        ENGENHO

 

minha terra

é

de senzalas tantas

enterra em ti

milhões de outras esperanças

soterra em teus grilhões

a voz que tenta – avança

plantada em ti

como canavial

que a foice corta

mas cravado em ti

me ponho à luta

mesmo sabendo – o vão

- estreito em cada porta

 

Artur Gomes

Em 1984 poemas meus foram publicados na Antologia Carne Viva, organizada por Olga Savary, considerada a primeira Antologia de poesia erótica publicada no Brasil, com a presença de poetas como Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Affonso Romano de Sant´Anna, etc.

 

ontem 3 janeiro 2025, assisti o depoimento de Sergio Ferro, dado ao Tutaméia https://tutameia.jor.br/ Sergio Ferro é arquiteto desenhista. No período da ditadura civil/militar 1964/1985 era professor da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Chegou a atuar como estagiário nos canteiros de obra de Brasília. Perguntado sobre as possibilidades de um mundo melhor, ele não teve dúvida em apontar o trabalho do MST - movimento dos sem terra e movimento dos sem teto. Inclusive afirmando que na França onde ainda mora continua a ajudar na divulgação desses dois movimentos. Se formos pensar profundamente a questão, vamos chegar a conclusão que o golpe de 1964 se dá pelo temor das Reformas de Base, formuladas pelo presidente João Gulart, e isso explica porque imediatamente logo no primeiro Ato Institucional, é cassado o deputado trabalhista Rubens Paiva, em 9 de abril de 1964, e vem ser assassinado dentro do Doi-CODI que funcionava dentro do quartel da PE na Rua Barão de Mesquita, na Tijuca - Rio de Janeiro.

 

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Balbúrdia Poética – livro e manifesto

https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/


1º de Abril

 

telefonaram-me

      avisando-me

      que vinhas

na noite

uma estrela

ainda brigava

contra a escuridão

 

na rua sob patas

                    tombavam

homens indefesos

 

esperei-te 20 anos

até hoje não vieste

        à minha porta

 

Artur Gomes

in Suor & Cio – 1984

Publicado pela primeira vez no livro Suor & Cio 1984/1985 – 20 anos depois do Golpe de 1964 – esse poema está gravado no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia,  publicado também na antologia pessoal Pátria A(r)mada 2019 e 2022, já esteve exposto em diversas Mostras de Poesia Visual, Brasil afora, está presente em fanzines na seção de arquivos da Biblioteca Nacional  e é um dos meus poemas selecionados para o livro Balbúrdia PoÉtica Livro e Manifesto.

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Pátria A(r)mada

https://arturfulinaima.blogspot.com/


 

CAVOUCANDO A TERRA

 

                        Wilson Coêlho

 

A obra "Itabapoana Pedra Pássaro Poema ", de Artur Gomes, é toda "poiesis", na perversão dos significados, trata-se de uma poesia no pau-de-arara, confessando intimidades, inventando conceitos, transitando nas peripécias, nos espasmos, no lance de dados.

 

Não é por acaso a ideia do subtítulo ou anunciação de "poesia, alquimia e bruxaria", considerando a poesia,  como gênero literário que faz uso de uma linguagem musical, figurada e criativa para veicular expressões artísticas, bem como, a alquimia dos sentimentos líquidos que escorrem no delírio do poeta que, de certa forma, no que diz respeito à bruxaria, resgata o místico, não religioso, que coloca em questão a possibilidade do óbvio de se estar no mundo, fora da lógica cartesiana, numa viagem Catatau leminskiana.

 

A poesia escrita, encenada, cantada, em movimento, inerte, barulhenta ou silenciosa. É a esfinge, Torre de Babel, Cavalo de Troia, fios de Ariadne, ferocidade de Teseu, sonho de Penélope, aventuras de Odisseu, nave louca de Torquato Neto, Macunaíma de Mário de Andrade, loucura de Artaud, ópio de Baudelaire, pânico de Arrabal.

 

Podemos afirmar, sem medo de errar que, em "Itabapoana Pedra Pássaro Poema", Artur Gomes usa a pena como uma pá que lavra os sulcos de um terreno baldio, a palavra como um arado em movimento, uma palavração. Assim, vai desenhando na página branca, cavoucando a terra para enterrar  as sementes de suas árvores "geniológicas", sempre frutíferas e, como um agricultor e arqueólogo das palavras, as retira da mera condição de semânticas, inventando novos significados, desafinando o coro dos contentes e desafiando a gravidade da lei da gramaticidade.

 

Enfim, em "Itabapoana Pedra Pássaro Poema ", estamos diante de uma desarticulação do mito e num processo de reinvenção, uma porta de entrada na utopia (u-topus = não lugar) para dar existência a um novo lugar da poesia extemporânea.

 

Wilson Coêlho é poeta, tradutor, palestrante, dramaturgo e escritor com 28 livros publicados, licenciado e bacharel em Filosofia e Mestre em Estudos Literários pela UFES, Doutor em Literatura Comparada pela UFF e Auditor Real do Collège de Pataphysique de Paris, do qual recebeu, em 2013 o diploma de “Commandeur Exquis”.  Assina a direção de 29 espetáculos montados com o Grupo Tarahumaras de Teatro, com participação em festivais e seminários de teatro no país e no exterior, como Espanha, Chile, Argentina, França e Cuba, ministrando palestras e oficinas. Também tem participado como jurado em concursos literários e festivais de música. Participa de diversos movimentos e eventos de teatro na América Latina. 

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"uma cidade sem memória não é uma cidade"

                   Federico Baudelaire

 

momento de grata felicidade ao lado do grande brother/poeta Salgado Maranhão e da escritora/historiadora Anita Leocádia - registro feito por Lília Diniz por ocasião da 7ª Feira do Livro de São Luís – Maranhão 

conheci Anita Prestes (filha de Luis Carlos Prestes), ao lado do poeta Salgado Maranhão, na 7ª Feira do Livro em São Luis do Maranhão em 2013. Atualmente, por todo o ano de 2024, quando o Golpe de 1964, chega aos seus 60 anos, estou mergulhado numa busca do levantamento da memória dos anos de chumbo 1964/1985.

Tenho assistido a maioria dos depoimentos dados a Comissão Nacional da Memória, por ex presos políticos e agentes das forças de repressão do período. Um dos mais contundentes, dado pelo ex-agente do Doi-Codi do Espírito Santo, o hoje pastor Cláudio Guerra, que narra como os corpos já retirados sem vida da Casa da Morte em Petrópolis e trazidos para serem incinerados nos fornos da Usina Cambaíba. 

Hoje assisti a entrevista de Anita Prestes, no site Tutaméia, https://tutameia.jor.br uma reflexão sobre esse período e o momento histórico do Brasil. Busco o levantamento dessas memórias como fonte de pesquisa para o livro Vampiro Goytacá Canibal Tupinquim, porque apesar de ser um livro de poesia/ficção, entendo que nenhuma ficção nasce do nada, existe sempre pelo menos algum vestígio de uma cruel realidade por detrás dela.

 

Artur Gomes 

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que venha 2025

com fé esperança

afinco

que nossos telhados

sejam ao menos de prata

menos de zinco

esconfio

que sobre nós

descerá chuva divina

para abençoar a severina

vida seca – serafina

desafio novo dinivo

fazer crescer novo roçado

ver na terra novo cio menino

 

Federika Lispector

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                          VeraCidade

 

pedra de toque

pedra de rock

veracidade meu bodoque

tem seu preço

na minha idade esta cidade

ainda não conheço

e até hoje

ninguém soube escrever o endereço

desde os tempos

das colônias dos impérios

dos tropeiros dos tropeços

 

Artur Gomes

Itabapoana Pedra Pássaro Poema

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